A aprovação da Emenda Constitucional 132/2023 marca a maior transformação do sistema tributário brasileiro nas últimas décadas. A adoção do modelo de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) — que unifica PIS, Cofins, ICMS, ISS e IPI em dois novos tributos (CBS, federal, e IBS, estadual e municipal) — trará impactos profundos sobre a operação das empresas. E, nesse cenário, os Centros de Serviços Compartilhados (CSCs) ocupam uma posição estratégica e, ao mesmo tempo, desafiadora.
Os CSCs, que concentram processos como gestão fiscal, emissão de notas, apuração de tributos e contas a pagar, estarão na linha de frente da adaptação. A transição para o novo modelo não se limita à substituição de códigos fiscais ou ajustes pontuais. Exige uma reconfiguração completa dos sistemas, processos e modelos de controle.
O desafio mais evidente é a necessidade de operar, entre 2026 e 2032, com dois regimes tributários simultâneos. Essa sobreposição demanda controles robustos, parametrização precisa dos ERPs e capacidade de gestão de dados em alto nível, especialmente no que diz respeito à rastreabilidade das informações fiscais e à correta apropriação de créditos.
Além disso, o novo modelo traz mudanças estruturais, como a tributação no destino, o fim da cumulatividade, o crédito financeiro ampliado, novas obrigações acessórias e a criação do Imposto Seletivo (IS), que terá impacto sobre setores específicos.
Diante desse cenário, as empresas que atuam com CSCs precisam, desde já, estruturar planos de adaptação. A criação de comitês internos com representantes das áreas fiscal, contábil, jurídica, TI e dos próprios CSCs torna-se imprescindível. Esses grupos devem mapear processos impactados, revisar a governança dos dados, definir estratégias de integração sistêmica e investir na capacitação das equipes.
A reforma, embora desafiadora, também representa uma oportunidade para os CSCs se consolidarem como alavancas de transformação nas organizações. Processos mais padronizados, automatizados e rastreáveis não apenas garantem conformidade, mas também reduzem riscos operacionais e fortalecem a eficiência financeira.
A transição para o novo modelo é inevitável. O diferencial estará na capacidade das empresas em se antecipar, estruturar a mudança e transformar a obrigação em vantagem competitiva.
*Fundada em 2015, a Associação Brasileira de Serviços Compartilhados (ABSC) representa a maior iniciativa no Brasil de aproximação e consolidação do segmento frente ao mercado, sociedade e governo. Sem fins lucrativos, a associação é formada por profissionais e empresas, e tem como principal intuito promover o tema Serviços Compartilhados por meio da integração de seus associados, prestando serviços, captando informações, disseminando conhecimentos, exercendo ação política e contribuindo para o aumento da competitividade do setor.